Mudança de carreira em tempos de pandemia

Mudança de carreira em tempos de pandemia

Quando todos pensavam que os desafios de 2020 estavam ficando para trás, veio o ano de 2021 como um verdadeiro banho de água fria. A vacinação chegou, conforme o esperado, mas a pandemia parece estar longe de seu desfecho final. Não bastasse o quadro desolador na saúde, o Brasil fechou 2020 com a estratosférica taxa de desemprego de 13,5%, segundo dados do IBGE, terminando o ano com 13,4 milhões de trabalhadores sem emprego e à procura de uma nova oportunidade.

Curiosamente, nesse contexto, um outro fenômeno chama a atenção: não apenas os desempregados estão em busca de novas oportunidades. A pandemia também impactou profissionais que se mantiveram em seus empregos, mas que viram nesse período uma oportunidade de se reinventarem. O motivo parece bastante óbvio: a imposição do trabalho remoto possibilitou para muitos, também, uma reavaliação da carreira e da vida como um todo.

O home office, que no primeiro semestre de 2020, soou para muitos mais como “hell office”, parece ter contribuído para que profissionais imersos em suas rotinas e entregas, passassem a questionar suas prioridades e propósitos. Famílias se reconectaram, novas habilidades foram descobertas e qualidade de vida, para muitos, deixou de ser algo negociável. Além disso, a flexibilidade de horários e rotinas possibilitou que muitos projetos engavetados saíssem da gaveta e que profissionais enxergassem uma oportunidade de, finalmente, partir para uma carreira mais gratificante.

 

Indecisão faz parte do processo

Uma pesquisa realizada pelo grupo britânico de educação Pearson revelou que cerca de 76% dos brasileiros cogitaram uma mudança de carreira na pandemia, no entanto, 59% demonstrou preocupação em mudar de carreira ou de área de atuação em um momento de crise. A verdade é que a oportunidade de desacelerar, se olhar mais atentamente, adquirindo um maior grau de autoconhecimento, trouxe um novo “despertar”, mas também uma grande indecisão para esses profissionais: realizar ou não a mudança?

Antes de qualquer coisa, é importante frisar que o medo e a insegurança estão sempre presentes em processos de mudança, seja qual for o cenário. Imaginar o contrário seria mera ilusão. Mudanças envolvem incertezas e onde há incerteza, há também medo e insegurança, é inevitável. No caminho para a mudança haverão obstáculos, imprevistos, dias bons e dias ruins. Por isso a importância de planejar muito bem cada passo dessa mudança, estipular ações e prazos viáveis, não descartando a possibilidade de conciliar provisoriamente as duas atividades profissionais (a atual e a pretendida).

A decisão de mudar de rumo não é simples e exige um bocado de coragem, principalmente em meio a tempos de incertezas políticas e econômicas como os que vivemos atualmente. Mas apesar dos riscos, é possível sim realizar uma mudança de carreira em tempos de pandemia. Muitas mudanças já se concretizaram e outras inúmeras estão em andamento. É necessário, no entanto, que se tenha cautela e uma dose de sensatez.

 

Seja sensato

Sensatez é uma virtude importante quando o assunto é desafio. Nesse sentido, algumas dicas se tornam valiosas para profissionais que desejam realizar uma transição de carreira e de forma cautelosa e responsável:

  • Qualificar-se: assim que definir a nova área de interesse, buscar aperfeiçoamento. Não se prender a estar “100% preparado”, pois essa ideia do “100%” pode acabar frustrando o andamento dos planos. Se qualificar é essencial: fazer cursos (hoje existem diversos online, pagos e gratuitos), assistir workshops e pesquisar as exigências no novo ramo de atuação.
  • Pesquisar sobre a empresa: conhecer a cultura organizacional e os valores da empresa que almeja é fundamental, o profissional deve estar alinhado com os objetivos da organização. Isso aumenta, e muito, suas chances de sucesso.
  • Networking: conectar-se com pessoas é essencial.
  • Fazer um bom planejamento estipulando ações e prazos a se cumprir.
  • Analisar as finanças: se o momento financeiro estiver muito difícil, uma mudança drástica, por hora, pode não ser uma boa ideia. É importante que se faça uma reflexão sobre a própria realidade financeira, analisando com cautela os gastos e as dívidas. Ter uma reserva financeira é sempre importante, principalmente para profissionais que pretendem fazer uma mudança drástica e não gradual.

 

Comportamentos que podem facilitar sua transição de carreira

Além das análises e ações anteriormente citadas, certos comportamentos podem também ser importantes nesse momento:

  • Se valorizar e não ignorar sua experiência anterior: as habilidades usadas anteriormente podem ser úteis para a nova atuação. Sua experiência deve ser vista como ativo e não como passivo.

 

  • Mudar sua história: é importante mudar sua narrativa criando uma forma nova de se comunicar. Isso inclui romper com a linguagem e jargões utilizados até então e adotar uma linguagem compatível com o novo setor, isso para que se tenha uma melhor chance comunicar claramente seus conhecimentos.

 

  • Não presuma que está começando do zero: é um erro considerar que para se fazer uma transição de carreira, necessariamente se deve dar um passo atrás. Considere sempre uma mudança lateral ou até uma subida de nível. Sua experiência é valiosa e pode ser benéfica para o outro setor.

 

 

Não ignore os riscos

Quando o assunto é transição de carreira, alguns riscos devem ser observados para que não se caia em armadilhas, e o modismo pode ser um deles. Muitas pessoas acabam se arriscando em novas carreiras por acreditarem terem encontrado um caminho fácil para ganhar dinheiro. O ditado “quando a esmola é demais, o santo desconfia” não poderia ser mais adequado nesse contexto. Optar por um caminho só porque ele parece mais fácil pode ser um erro fatal. Sempre desconfie de carreiras que ficam “na moda” da noite para o dia prometendo milagres, é preciso cuidado. Existem hoje muitas pessoas que ganham a vida fomentando a ilusão do “ganhe dinheiro fácil”, através de vendas de cursos e de outros serviços. As redes sociais estão repletas desse tipo de armadilha.

Escolher uma carreira só porque, em tese, ela “dá mais dinheiro”, é um outro erro comum. A melhor chance que um profissional tem de ganhar dinheiro é se destacando em algo que goste de fazer. É comum, também, que nesse período os palpiteiros de plantão entrem em ação e, com isso, cair na armadilha do “se eu fosse você” pode ser um risco em potencial. Por essa razão, é de suma importância que cada profissional se conheça suficientemente para saber que tipo de mudança deseja para si, até porque, é sempre bom frisar que: o que é bom para um, pode ser ruim para o outro.

Outro risco a ser observado é o do imediatismo. Vivemos em uma sociedade ansiosa por resultados imediatos e paciência é um ingrediente cada vez mais raro. As mudanças podem demorar e é, inclusive, bastante provável que elas demorem até se concretizarem, principalmente para àqueles que possuem planos de empreender. Portanto, é preciso calma e persistência.

Para finalizar, é necessário enaltecer o poder da intuição, um fator importante a ser considerado, mas tão importante quanto é não ignorar as análises racionais, pois fazer uma transição de carreira seguindo unicamente a intuição, pode também ser arriscado.

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